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Equipas felizes na saúde para quê?

Será possível conciliar ser profissional de saúde saúde com ser feliz no trabalho?

A equipa nobox

Seria utópico acreditarmos que todo o trabalho nos tem de deixar felizes. Algumas, ou muitas vezes, só tem de ser feito. Mas se há um local onde deveria ser fácil sentirmos felicidade, sentindo que fazemos a diferença, deveria ser na saúde. Mas vários dados e estudos indicam que, infelizmente, não é!

Antes de avançar, importa esclarecer o que se entende por equipas felizes, mesmo sabendo que a sua definição varia na literatura. 

Quando falamos de equipas felizes, falamos de equipas nas quais os profissionais:

  1. sentem que estão a contribuir para um propósito maior, ou seja, coletivamente e individualmente identificam e reconhecem o objetivo pelo qual a equipa existe, e se revêem nele, acreditando que o seu almejo tem um impacto positivo na vida dos doentes e da sociedade, e em si mesmo;
  2. sabem qual o seu papel na equipa, o que implica um claro conhecimento das responsabilidades que têm de assumir, das competências e tarefas que lhe são atribuídas, e que entendem e conhecem o papel que os restantes colegas desempenham; 
  3. e se sentem satisfeitos, motivados e valorizados, trabalhando de forma colaborativa num ambiente de segurança, o que implica que os líderes invistam tempo em criar e desenvolver condições de comunicação eficaz, oportunidades de crescimento pessoal e profissional e reconheçam as oportunidades e ameaças à desmotivação e falta de interesse no trabalho comum. 

As equipas e os profissionais de saúde garantem a manutenção dos cuidados e a capacidade de resposta do sistema de saúde, apesar do desinvestimento e ineficiência da gestão do sistema. Isto ocorre a muito custo e sacrifício pessoal, com índices de exaustão e desmotivação elevados, e com gestão inconstante e com sucesso oportunista, já que uma boa parte dos bons exemplos de gestão acontecem ou de forma empírica ou de forma ocasional. De forma consciente, estamos a colocar os profissionais em situações limite até que já não consigam aguentar e acabam por desmotivar, desistir e sair, com lideranças incapazes de abordar o problema. 

O que a evidência nos demonstra é que nos estamos a condenar ao insucesso, quando podíamos fazer bem diferente, valorizando e investindo nos profissionais, no seu desenvolvimento e na construção de equipas mais coesas, com lideranças bem capacitadas e com tempo para esse trabalho de coordenação, com retorno para todas as partes envolvidas: profissionais, organizações,doentes e sociedade.

De facto, o que a evidência (1) nos demonstra é que equipas mais felizes são não só capazes de produzir mais, mas também melhor, com maiores taxas de produtividade e índices de qualidade na prestação de cuidados, maior satisfação dos doentes e dos profissionais e maior sensação de segurança, com menos episódios de violência. Mas mais surpreendente, é que os benefícios não são só clínicos, mas também financeiros, com um custo menor quando comparadas com outras equipas e com maior cumprimento dos objetivos definidos com a instituição.

Equipas felizes permitem resultados mais eficientes e melhores cuidados para os doentes? 

Os membros de equipas bem desenvolvidas conhecem-se melhor e sentem-se mais à vontade com os restantes colegas, havendo um ambiente de abertura no qual se aceita a discórdia e a existência de diferentes opiniões - ou seja, existe segurança psicológica. Isto é fundamental para a troca e partilha de novas ideias, novas abordagens clínicas, novos procedimentos e, portanto, para a inovação e melhoria constante. E não estamos a falar meramente da componente técnica da saúde; falamos também sobre as interações fora deste âmbito, as relações, as vivências do dia-a-dia e a comunicação, que qualquer profissional do terreno sabe que é o que mais pode dificultar o seu trabalho ou por outro lado torná-lo tão gratificante

Por outro lado, é também importante que os profissionais se sintam mais à vontade a alertar para ou gerir e lidar com o erro. Infelizmente, a maior parte dos estudos sobre erro clínico reportam que em dois terços dos casos a falha se deve a problemas de comunicação ou articulação entre os membros da equipa e não a falta de conhecimento clínico ou técnico. Estas falhas acontecem frequentemente por desarticulação da equipa ou por coisas tão simples, mas impactantes, como um profissional ter receio ou não sentir confiança suficiente para dizer “Discordo desta abordagem”, enquanto assiste ou apoia algum procedimento, ou até mais simplesmente não sentir que tem espaço para dizer “Não sei, preciso de ajuda” num procedimento com o qual não se sente confortável.

No fundo, a prestação de cuidados de excelência hoje em dia depende da eficiente articulação entre os vários profissionais, para maximizar os conhecimentos e competências de cada um em prol do doente. E tal só pode ser atingido numa equipa coesa, com objetivos e responsabilidades claras, com profissionais motivados, valorizados e envolvidos.

Ainda é possível repensar e transformar os cuidados de saúde. Mas não é possível fazê-lo sem ou à custa dos profissionais. Só com profissionais e equipas felizes conseguiremos procurar e desenvolver novas soluções para os problemas atuais e futuros do sistema de saúde.

1. Carter M, West M, Dawson J, Richardson J, Dunckley M. (2009) Developing team-based working in NHS trusts

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