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Quebrar barreiras entre as profissões de saúde

O trabalho em equipa em saúde, tal como em várias outras áreas, envolve profissionais de diferentes áreas: médicos, enfermeiros, farmacêuticos, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais, técnicos de exames de diagnóstico, entre outros.

Alberto Abreu da Silva

O trabalho em equipa em saúde, tal como em várias outras áreas, envolve profissionais de diferentes áreas: médicos, enfermeiros, farmacêuticos, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais, técnicos de exames de diagnóstico, entre outros. Qualquer profissional de saúde em Portugal já sentiu várias vezes no seu dia-a-dia dificuldades de colaboração com outras profissões, muitas vezes em aspetos não relacionados sequer com questões técnico-científicas. Nesses momentos, é inevitável pensar que o resultado do seu trabalho conjunto poderia ser melhor, mais rápido ou simplesmente mais simples e feliz. A forma como o trabalho entre estes profissionais pode ser otimizado ainda não está estabelecida no contexto nacional e internacional de forma definitiva. Estamos então a falar de desenvolver cuidados interprofissionais.

O desenvolvimento de cuidados interprofissionais é essencial para aumentar a qualidade dos serviços de saúde, promovendo a redução do erro clínico, aumentando a eficiência dos serviços, melhorando a satisfação dos profissionais com o seu trabalho e melhorando os resultados clínicos.

No dia-a-dia é comum ouvirmos expressões como:

“trabalhamos em equipa multidisciplinar!” ou

“temos de abordar este problema de forma interdisciplinar!”

Mas será que usamos estes termos de forma correta? É conveniente fazer uma reflexão sobre a utilização da definição interprofissional e distingui-la do conceito de interdisciplinaridade, assim como do conceito multiprofissional e multidisciplinar:

  • Multidisciplinar: diferentes áreas do saber da mesmo profissão, a trabalhar no mesmo local;
  • Multiprofissional: serviços compostos por prestadores de diferentes profissões;
  • Interdisciplinar: atividade cruzada entre as diferentes disciplinas com verdadeira colaboração;
  • Interprofissional: verdadeira colaboração e partilha entre os diferentes profissionais.
Colaboração para resolução mais efetiva dos problemas

A Organização Mundial de Saúde emitiu um relatório em 2010 intitulado Framework for Action on Interprofessional Education & Collaborative Practice, que define cuidados interprofissionais:

quando vários profissionais de saúde de diferentes áreas profissionais providenciam serviços holísticos, trabalhando com os seus pacientes, famílias, cuidadores e comunidades com o objetivo de distribuir cuidados de saúde com a melhor qualidade possível, independentemente do contexto.

Assim, torna-se importante desenvolver nos profissionais de saúde competências que permitam aumentar a prática colaborativa, por forma a melhorar os cuidados que são prestados aos doentes. Na prática, estamos a falar, por exemplo, de médicos e farmacêuticos trabalharem de forma mais próxima, trazendo as suas perspetivas para alguns casos clínicos que resultem num melhor tratamento do doente e uma aprendizagem comum. Facilmente percebemos que há ainda um grande desconhecimento daquele que é o dia-a-dia de colegas de outras profissões que trabalham na nossa instituição. É importante frisar que cuidados interprofissionais se distinguem de conceitos que, podendo estar associados, não são mandatórios para que ocorram cuidados interprofissionais, nomeadamente o skill mix e task transfer. Estes dois conceitos preconizam transferência de responsabilidades e competências entre profissionais, ao passo que a prática colaborativa comporta apenas um conjunto de atitudes que promovem um trabalho mais próximo e efetivo entre as diferentes profissões, de forma a aproveitar ao máximo as competências de cada um. Várias instituições elencam as competências que os profissionais de saúde devem ter e trabalhar para promoverem interprofissionalismo nas equipas de saúde. O Consórcio Canadiense para a Colaboração Interprofissional publicou uma lista de seis competências comportamentais que podem ser desenvolvidas no imediato:

  1. Liderança Colaborativa;
  2. Gestão de Equipas;
  3. Clarificação de Papéis;
  4. Comunicação interprofissional;
  5. Patient centredness;
  6. Gestão de conflitos interprofissionais.

O foco da liderança das equipas deve, através destas competências, implementar iniciativas e desenvolver comportamentos que promovam uma maior proximidade entre os profissionais, com cruzamento de conhecimentos e preocupações, com repercussão direta nos planos de tratamento oferecidos, partilha de informação e melhor ambiente de trabalho na equipa. Por exemplo, repensar a forma como são realizadas as passagens de turnos, como são definidos os planos clínicos dos doentes ou através da implementação de ferramentas de comunicação universalmente compreendidas pelos profissionais.

Tratando-se de competências comportamentais, estas podem ser desenvolvidas ao nível da equipa e do indivíduo, e existem várias ferramentas que podem ser adotadas com o intuito de promover cuidados profissionais. A título exemplificativo, a implementação de reuniões interprofissionais nos serviços de saúde, adotando atitudes de liderança colaborativa, pode dar origem a projetos que envolvam diferentes profissionais e dessa forma resolver problemas e melhorar a forma de funcionamento desse mesmo serviço.

Irão ser publicados em breve artigos referentes a cada uma das competências, com alguns exemplos práticos de como podem ser desenvolvidas e estimuladas nos locais de trabalho. Contamos convosco para potenciar a colaboração entre os profissionais de saúde!

Alberto Abreu da Silva

Médico