Não são raras as vezes em que a preocupação com a retenção de profissionais de Saúde no país e, em particular, no Serviço Nacional de Saúde, é abertura de noticiários ou capa de jornal.
Ana Rita Ramalho
E se é certo que frequentemente identificamos a remuneração como a fonte do problema, certo é que ao fazermos essa assunção podemos incorrer no erro de deixar escapar uma janela de oportunidade de mudança do paradigma: a motivação dos nossos profissionais de Saúde.
É precisamente esta motivação a verdadeira responsável pela aproximação entre o que podemos fazer e o que geralmente fazemos. Independentemente do quão talentosa uma pessoa possa ser, não existe nenhuma garantia de que o seu talento se traduza na sua produtividade a não ser que haja um verdadeiro investimento na motivação de cada elemento da equipa. É precisamente aqui que o líder deve entrar em ação.
Perguntas dirigidas aos colegas de equipa, de forma simples e direta como:
a) Gostas do teu trabalho?
b) O teu trabalho faz-te sentir realizado?,
c) Sentes que as decisões superiores afetam a forma como prestas cuidados?
d) Consideras que os teus colegas de equipa trabalham bem juntos?
permitem que o líder não confunda ou ignore diferentes fontes causadoras de desmotivação nos elementos da sua equipa. Com o diagnóstico feito, importa agora capacitar esse mesmo líder para atuar individualmente na motivação de cada colega.
Quando está perante um colega desmotivado maioritariamente devido a fatores intrínsecos ao papel que assume – perguntas a) e b) - promover o seu envolvimento no trabalho e ajudá-lo a encontrar o equilíbrio pessoal revelam-se fundamentais. Poderá fazê-lo enfatizando o papel que ele assume no ato de cuidar e na melhoria do bem-estar do doente, bem como oferecendo o seu apoio regular a lidar com o impacto emocional que a perda ou a deterioração da condição da pessoa doente comporta para o seu colega. A título de exemplo, a criação de um período de auscultação dos elementos da equipa na agenda semanal pode revelar-se uma ferramenta muito útil para gerir os potenciais impactos dos fatores intrínsecos na motivação da equipa.
Por outro lado, quando a desmotivação advém maioritariamente de fatores extrínsecos ou organizacionais – pergunta c) e d) -, promover uma equipa envolvida – valorizando o contributo e ideias individuais na persecução de objetivos comuns - e investir tempo a explicar como é que os novos processos organizacionais e comportamentos poderão ajudar na prestação de melhores cuidados, deverão assumir-se como prioridades. A apresentação atempada das mudanças a serem implementadas, a recolha de dúvidas e sugestões, e o esclarecimento de questões, numa reunião com representação de todos os elementos da equipa afetados, é uma das estratégias que poderá pode assumir na gestão dos desafios impostos pelos fatores extrínsecos.
Não. Acima de tudo, importa falar de motivação porque hoje sabemos que a motivação está diretamente relacionada com a qualidade dos cuidados prestados, com o desempenho da equipa e da organização, e com a vivência e segurança do doente. Se todos reconhecermos estas premissas, então a motivação dos profissionais de Saúde constituirá uma prioridade assumida por nós, pelos (nossos) líderes e pelas organizações.
Um líder que não só não esquece, como prioriza a motivação dos seus colaboradores, está a fomentar um sentimento de pertença no colaborador. Está a liderar uma organização na qual os colaboradores se orgulham do contributo do seu trabalho para a organização, e na qual pretenderão continuar por muitos anos.
Será então a profissionais motivados que queremos entregar a nossa saúde e a saúde do nosso Serviço Nacional de Saúde? O repto está lançado. A ação, essa, dependerá do leitor e nós cá estaremos para o ajudar.
Ana Rita Ramalho
Médica