• liderança
  • eficiência
  • satisfação
  • alinhamento estratégico

Trabalhar em equipa, mais do que útil, é necessário

Em saúde, o trabalho em equipa torna-se, mais do que um meio, numa necessidade. Integrar conhecimentos tão variados e tão vastos como aqueles que são exigidos no tratamento de determinadas patologias é humanamente impossível.

Victória Matos

A especialização aproxima-nos da profissionalização e da excelência pelo que, cada vez mais, necessitamos de equipas interdisciplinares e interprofissionais que concentrem e explorem o potencial das várias profissões de saúde.

Encontramos hoje muitas outras variáveis reunidas, que justificam uma demanda cada vez maior por eficiência em Saúde: a integração das novas tecnologias e da informatização no quotidiano da saúde; a exigência crescente de cidadãos mais informados; a evolução e poder de marketing de soluções e serviços concorrentes e “alternativos”; a responsabilidade de contribuir para a sustentabilidade do sistema nacional de saúde, em particular, do serviço nacional de saúde; o desafio da inovação da era moderna, a constante urgência em fazer cada vez mais com menos.

Trabalhar em equipa nunca foi tão inevitável. Richard Hackman, Professor e investigador em psicologia social e organizacional da universidade de Harvard estudou ao longo da sua carreira o trabalho de várias equipas, e a sua pesquisa consistentemente demonstra um aspeto intrigante: apesar de concentrarem vários benefícios em potencial, as equipas raramente conseguem demonstrar a eficiência esperada. Problemas com a coordenação e motivação normalmente anulam os benefícios da colaboração, assim como a competição sem foco, que impede o verdadeiro progresso.

Encontramo-nos hoje num dilema: o trabalho em equipa, mais do que útil, é necessário. Mas serão os nossos grupos de trabalho na saúde, verdadeiras equipas?

Estaremos a dar as ferramentas necessárias aos nossos profissionais para que possam retirar o máximo potencial do seu trabalho e do seu tempo?

Estaremos realmente a procurar a eficiência?

Ou estaremos apenas a aceitar soluções, que apesar de lógicas, são incompletas?

Após anos de investigação intensiva estudando orquestras e tripulações de cabines de voo, Hackman definiu o Modelo de Efetividade em Equipa. Para atingir o seu máximo de produtividade, uma equipa deve focar-se não só no sucesso dos seus serviços mas também na sua própria evolução e crescimento enquanto equipa e na forma como a experiência de cada individuo está ou não a ser gratificante para o próprio. Ou seja, além do produto final ou da meta, a equipa deve preocupar-se também com o crescimento e fortificação das suas relações internas, e mais particularmente, com cada um dos seus membros: a sua participação no grupo e a sua satisfação pessoal. Estas são as equipas que demonstram ter uma melhor performance.

Trabalho de equipa é constantemente fundamental na prestação de cuidados

Tendo isto como base, uma verdadeira liderança assume-se como uma peça fundamental para o trabalho em equipa eficaz. Um bom exemplo da importância que deve ser dada a esta questão foi a criação do Modelo de Liderança em Saúde produzido para os profissionais do Sistema Nacional de Saúde britânico, o NHS (National Healthcare System), pela NHS Leadership Academy. Este modelo, baseado na evidência, reúne as dimensões que são consideradas essenciais para o exercício de uma boa liderança em Saúde e deve ser usado como guia orientador. Segundo este modelo, um bom líder deve ser capaz de:

  1. definir um rumo de trabalho claro, estabelecendo uma visão partilhada e alinhando expectativas;
  2. criar compromisso e incutir sentimento de responsabilidade;
  3. valorizar cada indivíduo, fomentar criatividade e maximizar o potencial de todos;
  4. monitorizar o trabalho e saber prestar feedback construtivo e assertivo;
  5. procurar sempre o crescimento da equipa, criando novas oportunidades formativas de acordo com as necessidades da equipa.
  6. manter um mindset alinhado com o propósito final, mas sem esquecer a equipa como uma entidade em crescimento, e cada profissional, único nas suas aspirações e motivações.

O trabalho em Saúde exige integração de conhecimentos, discussão e partilha de ideias, e de delineação de planos comuns e tarefas co-dependentes. Exige equipas verdadeiras. Equipas que devem ser bem lideradas e bem alinhadas em direção não só ao resultado final, mas também ao seu próprio crescimento enquanto entidade, e ao crescimento de cada indivíduo, cujo potencial deve ser identificado, valorizado e maximizado.

Victória Matos

Médica