• desejos
  • mudança
  • equipa
  • covid19
  • liderança

Um desejo para as equipas de saúde em 2021

Um desafio às lideranças em saúde no nosso país para que criem um futuro desejável na saúde, para os profissionais e para os doentes

A equipa nobox

A necessidade de investir no desenvolvimento das equipas e dos seus elementos tem sido apontada como uma prioridade há já vários anos. As suas vantagens são inegáveis, com ganhos concretos para a qualidade e valor da saúde, nomeadamente com uma maior efetividade e performance de equipas, que permitem criar novos projetos e soluções de melhoria e aumentar a satisfação dos doentes e família durante a sua passagem pelos cuidados de saúde.

2020 irá para sempre ficar marcado como o ano em que todos os sistemas de saúde, sem exceção, foram levados ao extremo, sendo, até ao momento, a sua resposta a única capaz de conter e travar o vírus SARS-CoV-2. Como já foi apontado em vários artigos prévios, esta resposta fez-se essencialmente à custa do esforço, dedicação e entrega dos profissionais de saúde - os recursos materiais e infraestruturais foram, na sua maioria, os mesmos. O ataque à crise pelos profissionais foi, de uma forma global, bem sucedido. A crise despoletou uma maior consciência juntos dos profissionais para a necessidade de tentar novas abordagens e processos, alertou os profissionais para a existência da possibilidade de tentar novas estratégias (em instituições maioritariamente conhecidas como rígidas e inflexíveis), permitiu a criação de novos espaços, novos circuitos de doentes, novas formas de atender os doentes. Certos de que, em algumas situações, as ideias ou os resultados possam não ter sido tão bons quanto seria de esperar, este artigo pretende forçar o leitor a pensar numa perspetiva positiva sobre tudo o que aconteceu, e ainda acontece.

A pandemia catalisou mudança.

E isso, por pior que tenha sido o contexto, para instituições de saúde tão cristalizadas no tempo, com profissionais e administrações muitas vezes estagnados no status quo de como se faz, de como sempre se fez e de como se espera que sempre se fará, criou uma janela de oportunidade. A oportunidade de novos líderes - formais ou informais - emergirem; a oportunidade de criar e desenvolver novos projetos, como alterar circuitos de doentes dentro do hospital com muita mais facilidade do que previamente; a oportunidade e implementar novas abordagens, como telemedicina, telemonitorização ou hospitalização domiciliária; entre muitos outros.

E esta oportunidade não pode ser perdida.

Apesar das equipas estarem, de momento, desgastadas, cansadas e, tal como a restante sociedade (ou ainda mais, pois ninguém viu o que eles viram) fartas da pandemia, as lideranças têm neste momento uma janela para mudar a sua estratégia para com as suas equipas:

  • Apoiar o desenvolvimento de projetos inovadores, com ideias já conhecidas ou com ideias totalmente novas;
  • Semear a consciência para a necessidade de mudar junto da sua equipa;
  • Desenvolver os membros da sua equipa com foco no futuro do seu departamento, e não com base na resposta imediata aos problemas do dia-a-dia;
  • Promover a coesão da equipa, com foco na motivação individual e colectivo no contexto do projeto do serviço;
  • Estabelecer objetivos a médio e longo-prazo que energizem a equipa para um novo futuro.

As limitações, agravadas durante a pandemia, são já sobejamente conhecidas, dependentes do contexto local. Ora infra estruturas limitadas, ora chefias castradoras, ora escassez de recursos humanos, ou então uma mistura de todos. A realidade é que existe, ainda, espaço, tempo e condições que devem ser aproveitados e que podem ser atribuídos àqueles que pretendem de facto melhorar os seus serviços e departamentos - os exemplos multiplicam-se por todas as instituições, em áreas diferentes. 

O que desejamos para o novo ano é que as lideranças em saúde no nosso país - em particular as do terreno: chefes de equipa, chefes de equipa de urgência, diretores de serviço, diretores de departamento, enfermeiros-chefe, etc, analisem o seu perfil como líderes e tomem consciência do que podem mudar para que o seu serviço, e as suas pessoas, colaboradores e doentes, cresçam em direção a um futuro desejado, e não para dar continuamente resposta a problemas muitas vezes triviais e sem impacto para a qualidade dos cuidados de saúde. 

A equipa nobox