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Não afoguem os líderes em saúde que emergiram desta crise

Muitos destes não eram sequer líderes formais no momento, mas a ocasião fez o capitão.

Diogo Fernandes Silva

Quando falamos de liderança, normalmente os grandes componentes onde podemos atuar são na equipa ou no líder. Contudo, esta crise veio virar do avesso o 3º elemento: o contexto, que normalmente muda mais paulatinamente. 

Esta reconfiguração veio trazer novas exigências e restrições externas, exigindo de todas as equipas novos conhecimentos e competências para conseguirem cumprir o seu propósito, cuidar.

Conhecimentos e competências como literacia digital, capacidade de decisão em clima de incerteza, resiliência e inteligência emocional, ou comunicação interna e externa durante tempos de crise, revelaram-se fundamentais nesta pandemia e fizeram emergir líderes outrora desencantados ou mesmo escondidos, chamados pela necessidade imposta pelo momento. 

Muitos destes não eram sequer líderes formais no momento, mas a ocasião fez o capitão.

Em tempo de necessidade, muitos se chegaram à frente e levaram as suas equipas com eles. Qualquer um de nós que trabalhe em cuidados de saúde, consegue neste momento identificar pelo menos uma dessas pessoas na sua equipa (aproveita e reconhece-o!).

Eles superaram-se e ajudaram a que toda a equipa se superasse, contribuindo para manter os níveis de energia e a motivação, sempre com o foco nos resultados.

Mas o pós-crise pode ser perigoso para estas pessoas se nada for feito. O pós-crise pode ser frustrante se o talento demonstrado não for alimentado e aproveitado. O pior que podemos fazer agora a quem se superou durante a crise é pedir-lhes para voltar exatamente ao sítio onde estavam e ao que faziam. É como pedir a alguém para esquecer algo que aprendeu e voltar à ignorância. Além da frustração individual, é também um desperdício para a organização e para o sistema de saúde, pois poderão ser estes os líderes capazes de impulsionar a tão necessária reforma na saúde.

A melhor parte é que não é assim tão difícil identificar e apoiar estes novos líderes. Basta primeiro tomar consciência desta necessidade - infelizmente, o passo mais difícil - e depois investir tempo para garantir o contínuo desenvolvimento destes profissionais com novas oportunidades, mais autonomia e responsabilidade e novos níveis de confiança e reconhecimento genuínos. 

As organizações hoje em dia gastam milhares de euros em programas de recrutamento e gestão de talento à procura destas pessoas. Uma tempestade fê-las vir à tona. Agora cabe a cada líder e à sua equipa garantir que não submergem novamente.

Diogo Fernandes Silva

Médico