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A força (e os riscos escondidos) da Motivação

Dicas práticas e ideias para o teu dia a dia na liderança das equipas nesta situação de crise

A equipa nobox

Nunca num passado recente os profissionais de saúde foram tão reconhecidos. A sociedade civil organizou-se em prol dos seus agora "heróis”, através de manifestações de agradecimento públicas, da angariação e disponibilização de meios de apoio aos profissionais e através da resposta aos vários apelos que foram surgindo, incluindo o de ficar em casa!

A motivação que advém da força desta MISSÃO do profissional de saúde recebe agora um impulso adicional que é dado pelo reconhecimento dos concidadãos, e que é realmente genuíno.

Estamos numa maratona imprevisível quanto ao fim, dimensão e impacto desta pandemia. O sentido de missão estará sempre presente, mas há momentos em que vacilamos, em que nos apetece baixar os braços, ou sentimos que não conseguimos aguentar. E sem sabermos porquê, talvez despoletado por uma palavra, um sorriso, uma memória, um comportamento de alguém, há um impulso invisível que nos faz mover – a nossa motivação. É uma força intrínseca, própria a cada indivíduo, que ou está presente ou nos abandona, muitas vezes sem percebemos porquê.  Quantas vezes nos sentimos insatisfeitos com a falta de recursos, a teimosia dos colegas ou do chefe, as falhas na organização, o horário, o não ter tempo para comer, ou o afastamento da família, mas se a nossa motivação estiver em alta, continuamos, e não é por estarmos insatisfeitos que vamos parar.

Os fatores que estão na base da motivação são diferentes de pessoa para pessoa e do momento que ela está a atravessar. Numa mesma situação, a tua motivação pode ser acionada pela aprendizagem que esta experiência te dá e, para outro colega, pode ser o reconhecimento que lhe é dado pelos colegas, pelo mentor ou pelos doentes. Mas é preciso não esquecer que nas nossas equipa podem estar pessoas que não estão expostas ao mesmo tipo de estímulos ou que estão noutro patamar de aprendizagem, de necessidade, de subsistência ou de segurança.

Sentido de propósito, realização, responsabilidades, reconhecimento e crescimento pessoal, são alguns dos fatores reconhecidos por darem estímulos mais profundos e duradouros. O salário, a segurança de emprego, a carreira, os incentivos, são um outro tipo de fatores que contribuem principalmente para que fiquemos menos insatisfeitos ou momentaneamente satisfeito. Todos são importantes, dependendo da pessoa e da circunstância.

Mais do que nunca, precisamos de saber o que nos motiva realmente, mas também o que motiva as pessoas que trabalham connosco para que, de forma consciente, possamos ativar essa força que é a nossa grande aliada – a motivação. Isto significa estar atento a ti próprio e aos outros e ter os comportamentos e gestos que queremos que tenham a ressonância adequada: reconhecer uma opinião técnica, ouvir uma ideia, dar um feedback encorajador, oferecer um café, apoiar na colocação do equipamento de segurança ou perguntar genuinamente: Como é que estás?

É fundamental gerirmos a nossa energia e motivação

Nesta fase de enorme exigência, responsabilidade e entrega, é fundamental que saibamos manter os níveis de motivação da equipa em cima, sem julgarmos o que motiva cada um. Devemos olhar para e por nós, mas também por aqueles que estão connosco. Só assim a tarefa se torna primeiro possível, depois tolerável e finalmente ultrapassada e vencida, para podermos voltar à nova "normalidade" e vermos como este acontecimento veio acordar, reforçar ou até mesmo criar uma equipa, que sairá disto bem mais forte do que quando entrou.

Deixamos aqui algumas sugestões concretas de como gerir a motivação individual e do resto da equipa:

Auto-motivação


#1 Percebe o que te motiva e respeita as tuas capacidades e limites
Provavelmente estás a executar tarefas com as quais estás menos à vontade, mas que descobres que até gostas. Pensa que é uma aprendizagem que pode ser útil para a tua vida. Podes também sentir-te muito envolvido emocionalmente com o teu trabalho e achares que tens de dar tudo até à exaustão. Define os teus limites, podes precisar de algumas energias extra para um momento crucial.

#2 Partilha as tuas ansiedades e dificuldades e pede apoio a quem sabe
Não esperes que a frustração te invada porque não estás a conseguir dar o teu melhor, ou não tens dificuldades, ou te sentes sub aproveitado. Podes ser chamado a trabalhar em equipas que desconheces e que vivem agora por detrás de uma máscara. Pergunta! Expõe as tuas dificuldades.

#3 Reconhece as tuas capacidades e dá a conhecê-las aos outros
Nesta crise todas as capacidades e habilidades são úteis - as científicas e profissionais mas também as outras - aquelas que não dás a conhecer porque não fazia sentido. Agora podem ser muito úteis, porque a situação que estás a viver é mega VUCA (volátil, incerta, complexa e ambígua).

Algumas dicas práticas para o dia-a-dia:

  1. Gostas de escrever? Faz um diário – pode vir a tornar-se num best-seller
  2. Gostas de desenhar? Faz algo com esta habilidade
  3. Gostas de cozinhar? Faz um petisco e partilha com os colegas e amigos
  4. Do que gostas? Faz algo que te dê prazer e, se fizer sentido, partilha com as pessoas à tua volta
  5. Se estás em período de isolamento obrigatório e gostavas de poder contribuir para o trabalho da tua equipa, procura desenvolver alguma atividade que gostes e que possas fazer à distância: analisar e resumir as últimas novidades da doença e enviar para a equipa, desenvolver algo que possa facilitar o dia-a-dia ou partilhar algum momento de humor, entre outros.
Entre-ajuda será fundamental para manter os níveis de energia e motivação

Motivação dos outros


#1 Respeita as diferenças, cada pessoa é diferente
Se o teu sentido de missão te estimula e dá força adicional para o combate, outros colegas podem estar com outro tipo de necessidades. Preocupações com a segurança, os procedimentos ou os tempos de descanso, são igualmente legítimas mesmo que isso te possa parecer falta de solidariedade ou compromisso. Pergunta 5 vezes o porquê da razão da atitude. No último porquê pode ser que encontres um problema de saúde de um familiar ou um medo de não estar à altura.

#2 Escuta as ansiedades e dificuldades e apoia
As pessoas à tua volta podem estar com dificuldades e não as conseguirem expressar. Se não o fizerem e achares que está tudo bem, podem ocorrer erros, desperdícios para além de conflitos emergentes. Abre canais para que te façam perguntas, e pergunta também como estão a ir as coisas – a dificuldade nas tarefas mas também o estado emocional.

#3 Reconhece e aproveita as capacidades dos outros
Dá oportunidade e estimula as pessoas que trabalham contigo a expressarem competências e habilidades que podem ser úteis para a equipa, bem como novas ideias. Sempre que houver oportunidade atribui-lhes responsabilidades e missões que sabes que as podem motivar.

Algumas dicas práticas para o dia-a-dia:

  1. Nos momentos de pausa, dá a conhecer as tuas ideias. Podes sempre propor um espaço físico para as pessoas partilharem as suas ideias e habilidades
  2. De vez em quando dá uma cotovelada ao teu colega – sinal de está OK?
  3. Coloca na bata algo que assinale o teu estado emoji do dia / do momento
  4. Aproveita todas as oportunidades em que algumas pessoas da equipa possam estar juntas para falarem dos sucessos/insucessos, do ânimo de equipa e das pessoas
  5. Se tens colegas em isolamento obrigatório poderás criar um momento para os envolver também – vídeo-chamadas nos momentos de partilha da equipa ou apenas para uma palavra de apoio poderão ser verdadeiros momentos de suporte nesta fase.
É fundamental celebrar os sucessos em equipa e usar pequenas conquistas como combustível para energizar a equipa.

Afinal, estamos numa maratona de equipa e chegar ao fim sozinho é irrelevante. Só em conjunto se vencerá este desafio e a parte mais difícil, mas também recompensadora, é conseguirmos manter o alinhamento e equilíbrio para continuarmos motivados a fazer a diferença!

Fonte: Teoria dos dois fatores de Herzberg por Frederick Herzberg

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