Estratégia nas organizações de saúde
Diogo Fernandes Silva
É compreensível que de ano para ano o objetivo seja produzir mais e dar mais acesso a cuidados de saúde. No entanto, não podemos ficar por aqui. A ambição não pode ser cega, limitada a um pouco mais do que se atingiu no ano passado. Temos que começar a procurar produzir também melhor e produzir de forma diferente, procurando novas soluções para os problemas de saúde das populações.
No entanto, se o “mais” exige apenas saber o que já se faz, dar o salto para “melhor” e “novo”, implica conseguir perceber o que podíamos (e devíamos) fazer.
E tal só se consegue com um conhecimento muito mais profundo da realidade da organização e um envolvimento real das equipas do terreno na análise dos problemas e na definição dos objetivos, uma vez que implica:
Por outro lado, implica inevitavelmente uma estratégia mais “democrática”, ou seja, se ouvimos e envolvemos os profissionais e lideranças intermédias, então tem de haver espaço para as suas sugestões, ideias e soluções, com hipótese real de as testar e implementar.
Infelizmente, este é um processo raro e a maioria dos trabalhadores na saúde desconhecem os objetivos para os quais trabalham, os indicadores para os quais contribuem, bem como o processo que os define.
Há quem diga que tal é positivo, centrando o foco dos profissionais no indicador que mais interessa - o melhor cuidado ao doente. Por outro lado, qual a lógica dos objetivos se estes não servem para guiar o trabalho das equipas no dia-a-dia?
Assim, é urgente a criação de novos mecanismos para trazer as equipas de saúde para a definição das estratégias organizacionais e empoderar as lideranças intermédias para este difícil, mas fundamental papel de ligação e tradução dos objetivos macro organizacionais para os objetivos da sua equipa e da cada um dos seus membros.
Se concordarmos com esta premissa, a primeira pergunta que se coloca é:
Existe um processo estratégico estruturado que promova o envolvimento dos profissionais, em particular, das lideranças intermédias?
Não estamos a falar das datas limite para assinaturas de contratos-programa ou contratualização interna. Estamos a falar do processo de auscultação, capacitação, envolvimento e decisão que dá origem aos novos objetivos e prioridades a serem incluídos no contrato-programa.
Um compromisso com uma estratégia participada, implica, pelo menos:
A verdade é que atualmente os processos estratégicos nas organizações de saúde sofrem de pouca credibilidade ou confiança, principalmente, por parte dos profissionais de saúde. Raramente são ouvidos e, normalmente, terminam a exigir mmais do mesmo e sempre com prazos de discussão atrasados.
Assim, este processo de mudança não será fácil, com várias barreiras possíveis, mas com a principal missão de devolver e construir confiança no processo.
E vamos mudar tudo de uma vez?
Não, necessariamente, porque mudança leva tempo. Podemos começar aos poucos, serviço a serviço, testando o modelo e melhorando, até a mudança se transformar no novo normal.
Nenhuma barreira é difícil de ultrapassar, mas exigem um esforço para que sejam minimizadas aos poucos:
Se há grupo de profissionais que raramente não está presente, são os profissionais de saúde. Se estes estão ausentes do processo estratégico, só poderá ser porque ou perderem a esperança no processo, ou sentem que não devem lá estar.
Estamos dispostos a trazê-los de volta?
Diogo Fernandes Silva
Médico